Poemas para um dia chuvoso

2024-08-28
Cecilia MoscuzzaPorPublicado porCecilia Moscuzza
Poemas para um dia chuvoso
Um vidro molhado, um céu cinzento, podem ter significados diferentes dependendo do olhar que os observa. Selecionamos poemas inspirados em dias de chuva.



No sussurro da chuva um poema eterno se revela, onde cada gota se torna um verso e cada poça um reflexo da alma. A chuva, com a sua dança suave e melancólica, desce do céu como uma sinfonia de sussurros, lavando a poeira dos dias e acariciando a terra com uma ternura inapreensível. É o ritmo da natureza que recita incessantemente, contando histórias de sonhos molhados e esperanças renascidas.



O primeiro poema da nossa seleção pertence a Vicente Aleixandre (1898-1984), poeta espanhol da chamada geração de 27, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1977.



Está chovendo


Esta tarde choveu, e choveu puro

sua imagem. Na minha memória o dia se abre. Você entrou.

Eu não ouço. A memória me dá apenas sua imagem.

Só o seu beijo ou a chuva caem na memória.

Sua voz chove, e o beijo triste chove,

o beijo profundo,

beijo molhado na chuva. O lábio está molhado.

Úmido de memória o beijo chora

dos céus cinzentos

delicado.

Seu amor chove, molhando minha memória

e cai e cai. O beijo

nas profundezas ele cai. E o cinza ainda cai

a chuva.



Sem dúvida, a chuva, com seus ritmos e melodias, inspirou centenas de escritores a criarem obras maravilhosas.

Sem dúvida, a chuva, com seus ritmos e melodias, inspirou centenas de escritores a criarem obras maravilhosas.



Desde os versos dos poetas mais ilustres até os sussurros íntimos daqueles que encontram consolo em seu canto, a chuva inspirou inúmeros poemas. Ela é a musa que desperta saudade e saudade, transformando o céu cinzento numa tela de emoções profundas e reflexões íntimas. Em cada estrofe dedicada à chuva esconde-se um eco do coração humano, uma saudade do abraço do sublime e do efêmero.



O seguinte corresponde a um poema de César Vallejo (1892-1938), intitulado LXXVII. César Vallejo foi um poeta e escritor peruano. É considerado um dos maiores inovadores da poesia universal do século XX e o maior expoente das letras no Peru.




LXXVII


É o suficiente para eu lembrar

e aumentar as pérolas

que coletei do próprio focinho

de cada tempestade.



Não deixe essa chuva secar.

A menos que tenha sido dado a mim

apaixone-se agora por ela ou seja enterrado

molhado em água

que abasteceu todos os incêndios.



Até onde essa chuva me alcançará?

Temo ficar com algum flanco seco;

Tenho medo que ela vá embora, sem ter me tentado

nas secas de cordas vocais incríveis,

por que,

para dar harmonia,

Você sempre tem que subir, nunca descer!

Não estamos subindo e descendo?



Cante, chova, no litoral ainda sem mar!



Vicente Aleixandre: O Prêmio Nobel de Literatura o consagrou como um dos grandes poetas do século XXI.

Vicente Aleixandre: O Prêmio Nobel de Literatura o consagrou como um dos grandes poetas do século XXI.



O último poema que selecionamos nesta ocasião pertence ao argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Borges foi um escritor, poeta, ensaísta e tradutor argentino, amplamente considerado uma figura chave tanto para a literatura de língua espanhola quanto para a literatura universal.



A chuva


De repente a tarde clareou

Porque a chuva miúda já está caindo.

Cair ou cair. A chuva é uma coisa

O que sem dúvida aconteceu no passado.



Quem ouve cair se recuperou

O momento em que a sorte

Ele revelou a ela uma flor chamada rosa

E a curiosa cor do Colorado.



Essa chuva que cega as janelas

Isso trará alegria aos subúrbios perdidos

As uvas pretas de uma videira de certa forma



Pátio que já não existe. O molhado

Tarde me traz a voz, a voz desejada,

Do meu pai que retorna e que não está morto.





Ao mergulhar nesses poemas, entramos em um mundo onde a chuva não apenas umedece o solo, mas também o espírito, dando-nos a oportunidade de explorar a beleza da vida sob um manto de lágrimas celestiais. A chuva, na sua simplicidade, torna-se a melodia do eterno, a poesia do presente que sempre nos convida a parar, ouvir e sonhar.

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