Marte é um dos planetas mais estudados do nosso sistema solar, não só pela nossa proximidade, mas porque se acredita que poderá ter tido um passado relativamente semelhante ao da Terra, com condições propícias à vida. Numerosas missões espaciais concentraram-se neste planeta, algumas das quais ainda estão ativas e outras ainda estão por vir.

No entanto, ainda não sabemos ao certo qual foi o passado de Marte. Um novo estudo recente encontrou possíveis evidências de que o Planeta Vermelho teve um passado menos propício à vida, identificando semelhanças entre os solos encontrados em Marte e os da Terra Nova, no Canadá, um clima subártico frio.

O estudo realizado por um grupo de cientistas da Universidade de Nevada Las Vegas (UNLV), nos Estados Unidos, e publicado na Communications Earth and Environment, buscou solos na Terra com materiais comparáveis aos da Cratera Gale em Marte. Os cientistas costumam usar o solo para representar a história ambiental, pois os minerais presentes podem contar a história da evolução da paisagem ao longo do tempo.

Comparando o passado de Marte com o presente da Terra (NASA).

Esta não é a primeira vez que rochas são usadas para entender o clima de um planeta. Esta é uma prática comum, uma vez que estes minerais presentes podem contar a história da evolução da paisagem ao longo do tempo. Os solos e rochas da Cratera Gale fornecem um registo do clima de Marte entre 3 e 4 mil milhões de anos atrás, durante uma época de água relativamente abundante no planeta, e no mesmo período em que a vida apareceu pela primeira vez na Terra.

O rover Curiosity da NASA investiga a cratera Gale desde 2011 e descobriu uma grande quantidade de materiais de solo conhecidos como "material amorfo de raios X", um tipo de material que em trabalhos anteriores havia sido classificado como precursor de materiais argilosos, abundante na Terra.

Marte teve um passado semelhante ao do nosso planeta?

Foram analisadas três localidades terrestres e no final apenas em uma delas foram encontrados materiais quimicamente análogos ao material amorfo de raios X de Marte: Estamos falando da Ilha de Newfoundland, no Canadá, que tem um clima subártico, com temperaturas que variam entre -7,0 graus Celsius em janeiro (no inverno) e 15,7 graus em agosto (em pleno verão), com temperatura média anual de 3,9 graus.

Deve-se notar que, em qualquer caso, estamos falando de condições de temperatura e umidade menos hostis do que as atuais no nosso planeta vizinho, mas não tão favoráveis quanto as temperaturas médias do nosso planeta. Anthony Feldman, cientista de solo do DRI (Desert Research Institute) nos Estados Unidos, comenta que "a cratera Gale é um paleolago: obviamente havia água, mas quais eram as condições ambientais quando a água estava lá?"

Nunca encontraremos um análogo direto da superfície marciana, porque as condições são muito diferentes entre Marte e a Terra. Mas podemos observar as tendências nas condições terrestres e usá-las para tentar extrapolar para as questões marcianas. “Este estudo melhora a nossa compreensão do clima em Marte”, acrescenta Feldman. “Os resultados sugerem que a abundância deste material na cratera Gale é consistente com as condições subárticas, semelhantes às que veríamos, por exemplo, na Islândia.”